domingo, 14 de junho de 2009

Marinharia

Nós que trançam tramas, sonhos, trapaças, destinos.
Não quero cabos ou amarras.
Quero tuas mãos hábeis nos meus cabelos.

Nós que somos nó embaixo da mesa,
embaixo dos panos, embaixo de tudo,
baixo.
Balde chutado escada abaixo!
Nós que seguram na medida tênue da segurança da vela,
estufa o peito, arde!

Andrada abre os braços dos teus mares!
Salta pois que o abismo é certo, como é farto o colo da sereia.
Nós e a arte de ser nós.
Nós e a alma inquieta e louca que sai na rua bêbada de mar,
e rota de poesia.

Nós e certo calor, que vêm sei lá de qual tormenta?!
Nós, apenas nós, silenciosos nós e a vastidão do tempo que tarda.
Nós e qualquer nota tirada de uma viola embriagada, nós.
Nós e um verso falso jogado a esmo,
largado ao léu, um verso torto, dito de supetão e de revés,
um verso que não deveria ter sido achado, uma sentença.

Somos nós, sinto muito. Somos nós, demasiado nós!

Lobo do Mar

Te amo, te sinto, te falto.
Meu barco não tarda nesse porto,
meu tempo é sobressalto.

vou indo (de novo).

Por isso não amo inteiro;
a contravento navego
Todos os anos, com o mar cheio.

Lobo do mar sente enjôo em terra firme.

AMSC - 14/06/2009

terça-feira, 2 de junho de 2009

Soulman (comunhão)

Para Maestro Silvio Barbato & José L. Santana


Começo meio filósofo,
com medo de ser chato:
quando a arte encontra sua maior expressão?

Bom, não é fácil de entender não
até difícil de explicar
mas tento: é quando.

Quando comunica para além de bons ou ruins ordinários
para além de estéticas, simetrias, feiúra
- ou mesmo técnica.

É quando na liberdade. No sublime. No cagar pra expectativas;
onde tudo flui, onde tudo e todos fluem,
acontece. Delicada e raramente, acontece!

Então comunicamos a alma humana
e o mundo comunga.
Cuidado! Qualquer dissonância lava longe o milagre.


AMSC- 02/05/2009