domingo, 10 de maio de 2009

Ishmael e a Caça a Reyna (ou Moby Dick do Século XXI)

Parte VII

(De volta à Taverna Magella’s. O Marujo subitamente cala-se e toma mais um gole de Rum. Os ouvintes parecem apreensivos. Ele observa o fundo do copo, como se quisesse perscrutar o fundo dos oceanos; levantando-se diz...)
(Marujo) - ... e é essa minha história, senhoras e senhores. Obrigado por emprestarem seus ouvidos. Foi um prazer.
(Forasteiro 1) – Mas como? A história não acabou! Reyna foi morta ou não? O Victory – ou qualquer outro barco – conseguiu rebocar a criatura? Quem ganhou o pódio, o prêmio, os louros? A posteridade da vitória? O fracasso humilhante da derrota? Quem são os vencedores, quem são os perdedores?
(Marujo) – Meu caro, meu caro... Reyna não foi mais vista naquele dia ou nos subsequentes. Fizemos vigília dia e noite, várias vezes, e nada. Ela desapareceu. Ninguém sabe o paradeiro final dela. Pelo menos por enquanto.
(Forasteiro 2) – Não acredito que ela sumiu. Deve ser frustrante!
(Marujo) – Caros forasteiros, aye! Vejo que o mar precisa ensinar muito a vocês ainda. Faltam sereias a confidenciar as esquisitas verdades da vida. Vitória e derrota são noções relativas. Seus conceitos, para quem vai um pouquinho mais além, difusos. O tamanho de suas possibilidades depende do tamanho da sua pessoa. Quanto maior a sua alma, mais fácil será enxergar vitória em lugares diferentes do habitual, ou mesmo destacar derrotas dos coloridos confetes. Sucesso, fracasso, o que eles significam para você?
.......................... (todos calam-se e ficam introspectivos; Marujo então continua)
(Marujo) - Olha, sair à caça de Reyna foi a maior aventura da minha vida. Atirando-me no mar, caindo em precipícios guturais, encontrei meu verdadeiro valor; quem eu realmente era. Reinventei-me. Estive ao lado de nobres baleeiros, que julgaram meu caráter e minha disposição. Eis suas histórias:
http://www.nyu.edu/reynolds/pdf/Judge%20Bio%20Facebook_09.pdf
Também, competi pelo Leviatã com 58 arpoadores da maior qualidade, selecionados entre 1000 e tantos no início, para depois 163 na semifinal, para enfim chegar ao número de finalistas. Todos esses personagens - sem exceção - tinham uma aura de excelência, um intelecto diferenciado. Transmitiam uma superioridade moral e existencial sem igual... bem diferente dos pescadores de sardinha, lambari e traíra da minha terra (e tantas outras terras, afinal gente estúpida é uma praga mundial), que só pegam peixes pequenos no final do dia e de suas vidas. E sabe qual é a maior, caros forasteiros? Eu estava entre aqueles bravos. Eu estava naquela nata internacional, representando minha Casa-UFRJ e meu país. Quer alegria maior, ou mesmo reconhecimento, de que você é competente e tem um pirú verde capaz de conquistar o mundo?
(Forasteiro 1) – É verdade. Nunca tinha olhado por essa perspectiva.
(Forasteiro 3) – Fato. Eu também não.
(Marujo) – Senso lato, foi uma vitória memorável, independente se Reyna jaz no cemitério azul ou não. Isso porque foi a vitória de um Homem sobre si mesmo, sobre seu passado, sobre os diversos bundinhas da sua amada Casa. Hahaha! Aye! Depois desta história, que foi até noticiada nos jornais da nossa província, espezinhar e destratar novamente seus semelhantes ficará ridículo: assédio moral nunca mais. Terão primeiro que pedir licença ao legado do pênis verde e do pum laranja com cheiro de lavanda.
(Forasteiro 3) – Puxa, peregrino-do-mar! De fato, foi ótimo isso tudo. Mas também acho que você foi um vencedor strictu-senso, cara.
(Marujo) – Sem dúvida! Ah, esqueci de contar! Minha passagem no pássaro metálico AA e dois dias de hospedagem em Manhattan foram pagas pelo porto baleeiro! Foda né? Veja bem, conhecer as intenções dos americanos é fácil, irmão: basta seguir a grana. Se eles estão dispostos a pagar sua ida desde Terra Brasilis até lá para você ser parte da tripulação de um navio baleeiro – ah! – eles de fato estão muito interessados em ver você em ação. In God We Trust! Hahahaha. No mais, tirei licença de serviço no porto belo de Piraí por duas semanas, foi o máximo. Estava precisando!
(Marujo, levantando-se) - Tenho que ir, cavalheiros e damas. Um beijo na bunda. Lembrem-se: juízo, jamais! Amadurecer, sim; crescer, nunca!
(Forasteiros, em uníssono) – Tchau! Parabéns!
....

FIM

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